As memórias moldam sua identidade: aprenda a ressignificá-las e reconquiste sua melhor versão

É comum pensarmos em nossas memórias como uma seleção de momentos felizes: aniversários, conquistas, pessoas queridas, viagens marcantes. Mas a verdade é que somos formados também pelas experiências que gostaríamos de apagar — aquelas que doem, que nos envergonham ou que ainda não conseguimos compreender totalmente.
Memórias não são apenas registros do que aconteceu. Elas moldam nosso modo de ver o mundo, de nos relacionarmos com os outros e de percebermos a nós mesmos. Elas influenciam decisões, crenças, medos, desejos. Por isso, mesmo aquelas que tentamos esquecer continuam agindo silenciosamente sobre nós.
A função das memórias na construção da identidade
Do ponto de vista psicológico, a memória é essencial para a construção da nossa identidade. Ela nos dá continuidade: somos a mesma pessoa que aprendeu a andar de bicicleta, que foi à escola, que amou, sofreu e sobreviveu. Essa narrativa pessoal, construída ao longo da vida, permite que façamos sentido de quem somos.
Quando reprimimos ou evitamos certas lembranças, criamos lacunas nessa narrativa. Podemos até funcionar bem por um tempo, mas, com frequência, sintomas emocionais começam a surgir: ansiedade, reatividade, tristeza persistente, sentimentos de vazio ou de inadequação.
Esquecer não é o mesmo que superar
Tentar esquecer o que nos machucou pode parecer um caminho mais fácil, mas raramente é eficaz. O cérebro humano não funciona como uma lixeira que podemos esvaziar com um clique. Na verdade, quanto mais evitamos certas lembranças, mais energia gastamos para mantê-las longe da consciência — e isso cansa, fragiliza e nos aprisiona.
Superar não é esquecer. Superar é lembrar de outra forma.
É conseguir olhar para aquela memória e perceber que, apesar da dor, ela não define todo o nosso ser. É conseguir extrair algum aprendizado ou, ao menos, reconhecer que sobrevivemos.
Esse é um dos principais papéis da psicoterapia: nos ajudar a dar novos significados ao que vivemos, construindo uma narrativa mais integrada, mais compassiva e mais coerente.
A terapia como espaço de elaboração
Na terapia, criamos um espaço seguro para lembrar, sentir e ressignificar. Ao trazer à consciência memórias difíceis, temos a chance de olhar para elas com outros olhos — com apoio, com escuta, com novas ferramentas emocionais.
É nesse processo que começamos a reconstruir nossa história não para mudá-la, mas para compreendê-la melhor. E ao compreendê-la, ganhamos liberdade: deixamos de ser reféns do passado e nos tornamos protagonistas do presente.
Somos feitos de lembranças — das que enchem o coração e das que ainda apertam o peito. Todas fazem parte do que somos.
Acolher nossas memórias, ao invés de negá-las, é um ato de coragem e de amor próprio. É o primeiro passo para viver com mais inteireza, autenticidade e leveza.
Se você sente que há memórias que ainda te ferem, saiba que não precisa enfrentá-las sozinho.
Há caminhos para curar, transformar e seguir em frente — e a psicoterapia pode ser um deles.
